terça-feira, 23 de abril, 2024
Início Institucional SKA e o desafio da virada da Indústria 4.0

SKA e o desafio da virada da Indústria 4.0

0

*Escrito por Patrícia Comunello e veiculado na edição do dia 30 de setembro de 2019 no Jornal do Comércio

 

Quando a SKA surgiu, em 1989, as inovações em digitalização da­vam os primeiros passos, que, hoje, ganham ritmo de corrida de 100 metros rasos. O que o grupo de São Leopoldo – que tem como car­ro-chefe projetos de ferramentas, design para engenharia e proces­sos industriais com receita anual esperada em até R$ 150 milhões em 2019 – mais tem feito é ofertar soluções para que mais segmen­tos consigam assimilar e surfar na onda da digitalização, reforça o CEO e fundador, Siegfried Koelln. Em agosto, a SKA inaugurou o Cen­tro de Manufatura Digital, em uma parceria com a gigante HP, com a tarefa de acelerar inovações em empresas. “A chegada da Indústria 4.0 significa pensar uma coisa e executar no menor tempo possível”, resume Koelln, filho de gaúchos que nasceu em Mondaí, pequena cidade no Oeste de Santa Catarina, na fronteira com a Argentina. Aos 59 anos, o empresário lidera o gru­po familiar e se entusiasma com a evolução de novos negócios que saem de dentro da empresa-mãe.

 

Empresas & Negócios – Qual é o tamanho da SKA hoje?

Siegfried Koelln – Temos 12 unidades no Brasil, com sede em São Leopoldo. Essas unidades dão suporte técnico a nossos clientes e algumas desenvolvem softwa­res, como em Santa Catarina e São Paulo. O faturamento, em 2019, ficará entre R$ 140 milhões e R$ 150 milhões. Temos tido um desempenho consistente há bas­tante tempo. Nosso faturamento dobra a cada três anos, com cresci­mento médio anual de 30%. Neste ano, o percentual deve ser maior, pois compramos, em 2018, o nos­so principal concorrente, a IST, com sede em São Paulo, que era a número dois do mercado brasilei­ro. Com isso, ganhamos mais 70 profissionais. Nossos segmentos estão na indústria metalmecânica como um todo.

Empresas & Negócios – Qual é a perspectiva para 2020?

Koelln – Com toda a velocidade de inovação tecnológica, muitos clientes vão entrar mais nisso, o nosso trabalho só aumenta. Vamos continuar no mesmo ritmo de cres­cimento. Se a adoção de impresso­ras 3D de maior porte aumentar, potencializa ainda mais.

Empresas & Negócios – A SKA tem uma spin-off. Como está a operação?

Koelln – Criamos uma spin-off, a W3K, que fornece para grandes empresas – como a Gerdau –, tem 20 pessoas e cresce aceleradamen­te, com operação no Tecnosinos, e que desenvolve softwares para gestão de documentos em projetos e de capital. A W3K provê plata­forma na nuvem (armazenamento de dados) para gerenciar esses do­cumentos. Em vendas, superamos R$ 5 milhões em 2019. Para uma startup, podemos considerar que o negócio está consolidado.

Empresas & Negócios – O que vai significar a ativação do Cen­tro de Manufatura Digital em parceria com a HP?

Koelln – Com a chegada de novas tecnologias, que permitem atingir coisas antes impossíveis, há necessidade de toda uma mudança cultural que começa na concepção do produto. Para isso que o centro será importante. É preciso inter­nalizar as novas alternativas. Com a chegada de impressoras 3D em ambientes de produção, não será preciso mais construir protótipos. A impressão permitirá, sem gran­de investimento, produzir produ­tos com boa qualidade, atuando on demand, ou seja, conforme a necessidade.

Empresas & Negócios – Como os clientes vão poder usar a estru­tura?

Koelln – Temos milhares de clientes que estão o tempo todo projetando coisas. Vamos mostrar no centro como é possível fazer coi­sas de outras formas. Após a fase de convencimento, queremos que as empresas implementem em suas linhas de produção, adotando in­clusive impressoras 3D. Como nem todos comprarão o equipamento, abre oportunidade para desenvol­vedores de serviços na área. Posso fazer o design que for que a má­quina vai aceitar; a tecnologia dis­ponível permite colocar questões aos compradores que ele avalia a melhor entrega – como ter menor peso, maior resistência de material para dada função. Imagina o im­pacto para setores como indústria automotiva. Vai ter centros de im­pressão, para ficar próxima de seus mercados. Vamos ter centros de reposição, onde terão peças, o que evita transtornos de logística e traz oportunidades e ameaças.

Empresas & Negócios – Qual é o perfil dos clientes que vocês atendem?

Koelln – Temos empresas com todos os tamanhos, desde peque­nas, como algumas que estão in­cubadas no Tecnosinos, a ícones como a Embraer e montadoras. É importante desmistificar – há im­pressoras que não têm alto custo – que a empresa pode colocar em cima da mesa no escritório para imprimir peças de fibra de carbo­no com resistência muito maior do que em alumínio laminado, caso de componentes para avião. O valor de um equipamento é a partir de R$ 20 mil a R$ 30 mil.

Empresas & Negócios – Qual é a orientação para uma empresa que está entrando na Indústria 4.0?

Koelln – Muitas vezes, quando conversamos com uma empresa sobre a sua condição, pergunto sobre a posição de mercado que garante com o que ela tem. Estão ganhando ou perdendo partici­pação? É eficiente? Onde estarão em cinco anos se ficarem com os meios atuais? Tudo está mudando ao redor. Inovação é dar a cobertu­ra para funcionalidades, inclusive buscando saídas mais eficientes e até mais baratas para ocupar mais espaço. No planejamento estraté­gico, fala-se em oportunidades e ameaças, mas uma disrupção tão grande como a que vivemos pode trazer impacto muito maior. Quem não se atentar a isso possivelmente não terá vida longa.

Empresas & Negócios – É pre­ciso repensar o negócio ou buscar solução que pode incorporar?

Koelln – As duas coisas, pois, hoje, há grande facilidade de bus­car soluções. O nosso trabalho é ajudar a compreensão dentro da realidade de cada negócio. Nas dinâmicas que fazemos com em­presas, pedimos que tragam peças cujas soluções não sejam mais sufi­cientes e buscamos novas possibi­lidades. Uma das ações é remover limitações que estão na cabeça das pessoas, pois elas não conhecem as novas alternativas.

Empresas & Negócios – Como investir em inovação diante da con­juntura da economia brasileira?

Koelln – Em geral, atentamos aos macronúmeros, como PIB, pro­dução, emprego. Se formos olhar mais de perto, todo esse cenário não está em empresas de ponta e elevado alcance tecnológico. Basta olhar o balanço de companhias como Weg e Marcopolo, que aten­demos. Existe, sim, a realidade de áreas de negócios que vão sumir. Vou dar um exemplo simples: há anos, mandávamos fazer agenda para fornecedores e funcionários; hoje, ninguém mais faz isso. Está tudo de graça em meu smartphone ou no computador. As perguntas que uma empresa tem de se fazer é o que produz hoje e qual será a demanda em quatro ou cinco anos em seu mercado. Se o que produz terá demanda de um quinto do que é hoje, precisa buscar alternativas, se não o seu mercado vai sumir.

Empresas & Negócios – Quem já está fazendo a transição não sofre com a crise? Ou precisa ser uma condição conjuntural mais estável e clara sobre o futuro?

Koelln – As políticas existem, como Finep, com linhas para ino­vação, além do que os players colo­cam de equipamentos e financiam. Sempre que deslancha a economia, surgem mais entrantes. Quando a atividade trava, quem é mais com­petitivo sai mais forte.

Empresas & Negócios – O que o Rio Grande do Sul precisa fazer para ser motor na nova indústria?

Koelln – Temos um capital hu­mano importante. Gigantes de tec­nologia que atuam aqui sempre fa­lam da qualidade dos profissionais. Mas tem essa divisão ideológica, entre chimangos e maragatos, em vez de comemorar sucessos, come­mora-se a derrota do outro. Ques­tões ideológicas não resolvem, só pioram. Não adianta achar que somos os melhores, pois isso não resolve os problemas.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui